Eu e Eunice viajamos pela LATAM até São Paulo e daí em voo direto de 9 horas para Toronto, maior cidade do Canadá com mais de 5 milhões de habitantes. Fomos pela Air Canada. Seguimos tanto na ida quanto na volta naquela primeira fila da classe turística com bom espaço para esticar as canelas. É uma grande vantagem e reduzido incremento no preço da passagem.
Chegamos cedo em Toronto e após um rápido trâmite burocrático seguimos até os abrigos de ônibus depois da segunda porta pesada de vidro grosso do gigantesco aeroporto. Senti um vento polar e de imediato percebi que não calculei direito a média de temperatura do lugar. Sorte que de última hora ainda em Fortaleza resolvi vasculhar umas roupas pesadas de viagens anteriores, achei uma segunda pele e um casaco surrado que adotei como farda inseparável. A logística de transporte do aeroporto é boa, primeiro as malas, carimbo de entrada no passaporte e finalmente ponto do ônibus 900. O dinheiro deve ser contado em moedas totalizando U$ 2,25 canadenses, os motoristas primam pela cortesia. Contamos com a ajuda de uma colombiana no aeroporto e um cearense que estava no ônibus, o rapaz era de Tauá-CE e me deu algumas dicas de como me deslocar, achei este encontro uma espécie de boas-vindas na chegada ao País. O ônibus nos levou até a estação final do metrô, linha verde Kipling, e 15 estações depois, finalmente Sherbourne. Saindo da estação atravessamos uma rua e seguimos na Bloor Street, mais à frente na esquerda entramos numa galeria e saímos numa rua defronte ao nosso hotel. Eunice ficou com as malas e sacolas na galeria, atravessei a rua estreita com minha mochila e fui apertar o botão de uma campainha, após abrir um portão e subir alguns degraus. O recepcionista gordinho e baixote do hotel saiu fumando com uma surpreendente bermuda naquele frio e me disse que só poderíamos ingressar ali a partir das 15 horas. Outro problema era a falta de um adaptador para carregar o celular, sempre me esqueço disso. Esta desconfortável situação de passar 5 horas ao relento no frio ou na galeria e sem comunicação foi rapidamente revertida, o sujeito num gesto inesperado com a cabeça e apontando para o quarto concordou com a nossa entrada antecipada. Retornei a galeria, dei a boa notícia para a Eunice e imediatamente pegamos as malas. Também comprei o adaptador na portaria do hotel por 5 dolares canadenses, lá os 2 buracos da tomada são mais próximos um do outro. Atravessamos a rua estreita, subimos os degraus e entramos no hotelzinho onde paguei de bom grado os 1.430 dolares canadenses em cash, e nos instalamos no quarto. O hotel tem 40 quartos com banheiros coletivos, mas fizemos reserva antecipada para ficarmos num dos quartos com banheiro privativo e pagamos um pouquinho mais.
Eunice reclamou que não estava preparada para um frio daquela magnitude. Após uma arrumação superficial no quarto deixamos a bagagem e como era cedo fomos andar na St. Bloor até a St. Yonge, por sorte o mais popular cruzamento de Toronto. No caminho passamos pela galeria e conheci o melhor croissant do Canadá, num MacDonald, sempre eu ia lá conferir quando podia. Bom, no cruzamento encontramos um excelente centro comercial. Eunice comprou um casado perfeito, róseo, barato por já ser final de inverno. Enfim, o tempo passa e as coisas vão se arrumando.
Toronto privilegia quem quer visitar os lugares caminhando, pedalando. O transporte motorizado vem em segundo plano. Para nós o metrô é tudo de bom, fantástico, a mobilidade urbana é perfeita. Algumas estações próximas são ligadas por ônibus sanfonados, podem ser distantes do trajeto natural do metrô, mas ligadas pelo conhecido street car. Além do transporte urbano excepcional as pessoas circulam com aquela sensação de segurança, percebi que são solidárias. Enfim, existe infraestrutura, cuidado com o cidadão e educação.
Loo no segundo dia vimos que em frente a cidade existem várias ilhas e escolhemos tomar um barco para conhecer a ilha central de onde poderíamos apreciar toda Toronto e tivemos a visão superior da ilha através de um teleférico.

Nossa primeira providencia turística após conhecer a ilha foi comprar um CityPass e então ficamos obrigados a conhecer 5 ícones da cidade. Ele permite a entrada na Casa Loma, zoo, Centro de Ciências, museu e CN Tower. Visitamos a casa Loma, o maior castelo da América do Norte construído por um magnata na esperança de um dia hospedar os reis da Inglaterra, fato que nunca ocorreu. Sir Henry contratou um arquiteto em 1911 e três anos depois tinha 200.000 m² de castelo em 5 acres de terra no topo de uma colina. Ele e a mulher Lady Mary foram obrigados a abandonar o castelo 10 anos após a sua construção por um colapso financeiro. Fomos nesse mesmo dia a estação do metrô a tarde e visitamos o Royal Ontario Museum, um expressivo passeio, tem mais de seis milhões de peças e 40 galerias, com mais de 100 anos. O lugar é um convite para conhecer a história da melhor forma possível, passamos apenas umas 4 horas e óbvio, vimos o superficial. Uma das galerias mais impressionantes é a dos fósseis de dinossauros, o Nível 2 do museu expõe uma série de esqueletos dos maiores dinossauros que existiram na Terra, como os Barosauros. A sala fica próxima da Reed Gallery of the Age of Mammals, que resgata através de fósseis as diversas espécies de mamíferos que viveram na era glacial. Os destaques são o hyracotherium (criatura parecida com um cavalo, do tamanho de um cachorro e que viveu no Hemisfério Norte há 50 milhões de anos) e algumas espécies de mamíferos que viveram em Ontário. Na Gallery of Birds, uma coleção de réplicas de centenas de pássaros, onde é possível tocar nos ovos e observar ninhos de diversas espécies. Perto dali está a Bat Cave, uma cópia perfeita de uma caverna jamaicana, com inúmeros morcegos mecânicos que se movimentam e emitem sons. É um dos lugares prediletos das crianças. A caverna passou por uma renovação em 2010, e tornou-se ainda maior e mais emocionante. Uma outra seção é a Gallery of Hands-On, onde o visitante pode testar diversos equipamentos usados pelos pesquisadores na exploração da biodiversidade. Entre as atrações estão alguns animais empalhados, gavetas cheias de insetos e vitrines com animais que se movem, dando a impressão de serem reais. Na Life in Crisis Gallery, estão diversas réplicas de animais em extinção, como o rinoceronte branco, o panda gigante e a tartaruga de casco de couro. Recentemente, essa seção foi premiada pela Associação de Designers de Interiores de Ontário. No Earth Rangers Studio (uma espécie de estúdio de guarda florestal, aberto de terça-feira a sábado), instrutores dão explicações sobre diversos animais. O Teck Suite of Galleries: Earth’s Treasure é onde estão expostos uma série de minerais, pedras preciosas e alguns tipos de meteoritos de todas as cores e tamanhos raro de meteoritos que contém um dos mais velhos e primitivos materiais orgânicos relacionados com a formação do sistema solar. No Nível 3 do museu encontra-se a Gallery of Africa: Egypt, onde estão situadas as múmias, entre elas a Djedmaatesankh. Existe uma hipótese de que a pessoa tenha morrido há mais de 3 mil anos em decorrência de uma dor de dente. Há também raros objetos, como um busto da rainha Cleópatra, todo feito de granito. Outros destaques no Nível 3 são a Gallery of Rome (com mais de 500 peças que mostram a influência da Roma Antiga em diversas culturas), Gallery of the Middle East (que explora a história do Oriente Médio) e a Gallery of Greece (onde diversos objetos como vasos, moedas e joias revelam a riqueza e criatividade histórica da Grécia).
No dia seguinte fomos conhecer a CN Tower Toronto com 553 metros de altura, é possível ter uma vista completa da cidade e visitamos 3 de seus 4 níveis de observações. Saímos do nosso hotel, fomos até a estação Union e chegamos facilmente na torre. Almoçamos no restaurante circulando em 360º com uma vista magnífica. Em um de seus níveis, destaca-se o mundialmente famoso Piso de Vidro, onde, olhando para baixo, é possível ter a dimensão da altura do observatório e para quem tem medo de altura tem-se aquela sensação de queda iminente. A viagem no elevador panorâmico é uma atração à parte. A torre estava lotada de turistas. É um passeio imperdível em Toronto. Neste dia também formos ao aquário de Toronto, conheço muitos aquários mundo afora, mas o de Toronto se destacou na minha memória. Tive inclusive a sorte de em 1998, conhecer o aquário de Lisboa quando da inauguração do Parque das Nações, quando Portugal decidiu recuperar uma área degradada de sua capital e inaugurar o marcante evento. O de Toronto se destaca por dois motivo: i) Tem uma esteira que a partir de certa etapa vai levando o visitante por toda a sua extensão do aquário, simples, cômoda e belíssima maneira de apresentar, ii) Outra surpresa, vejo em cima de forma surpreendente um enorme tubarão passando sobre nossas cabeças, vejo uma tartaruga, e de lado uma infinidade de criaturas aquáticas dos mais variados tamanhos, cores e formatos. Ideal era se fosse um túnel no miolo do aquário permitindo se visualizar os indivíduos nadando sob os nossos pés dando a mesma impressão de transparência vista na torre comentada antes. O zoológico foi para nós a grande decepção do CityPass, talvez a inconveniência do horário, vimos apenas umas hienas, uns patos e cavalos.
Estávamos cansados, nosso cotidiano era mais ou menos o seguinte: acordávamos tarde da manhã, preparávamos o café e a cozinha estava quase sempre disponível, as nossas coisas eram identificadas e acondicionadas na geladeira ou num armário coletivo. Eunice encontrou-se com uma senhora da África do Sul e trocaram algumas palavras. Tinha um russo, ucraniano, sei lá o quê, incapaz de dar um cumprimento, mesmo um sutil ou leve sorriso. Ele estava sempre tomando uma bebida num copo com inscrições naquele alfabeto cirílico. Tinha um semblante sofrido e era extremamente arredio.
Saíamos para os passeios tarde da manhã, passávamos o dia fora explorando a cidade considerada pela revista Economist uma das cinco melhores do mundo para se morar. Chegávamos às 20 horas e ainda estava sol forte, claro, e era o momento de ir fazer compras num supermercado na galeria (bananas, laranjas, pão leite, café, água, queijo, salada de frutas, presunto, ovos), enfim, o básico para um café da manhã e jantar leve. O almoço era nas saídas, onde a gente se encontrava sempre tinha um local. Cada vez que eu ia para o supermercado tinha o cuidado de levar as sacolas de plástico no bolso, depois de 2 vezes pagando pela bendita sacola aprendi a lição. Quase todos os dias a gente chegava e via o russo com um violão na entrada do hotel fumando e totalmente à vontade numa temperatura típica de um frizer. As vezes aquele recepcionista estava fumando e mexendo no celular com sua improvável bermuda num frio de rachar.
Circulando de norte a sul, leste e oeste na cidade obtivemos a informação da monumental cadeia de lojas num subterrâneo na estação de metrô Dundas, tínhamos passado no local, mas não sabíamos desta peculiaridade. Nesse dia, fomos a uma escola de idiomas e entender como seria a estratégia e principalmente os custos para a Andrea eventualmente estudar inglês em Toronto. Aparentemente achei as condições deveras interessantes e viáveis. À noite, estava no hotel, pronto para ir as compras na nossa galeria então parei para conversar um pouco com o recepcionista, ele me apresentou para 2 irmãs brasileiras, uma delas mais idosa com interesse em vir morar no Canadá, ela tinha trabalhado em empresa aérea e me surpreendeu com o bom nível de seu inglês. A outra estava com um calo terrível de tanto andar no Toronto Eaton Centre. Conversamos rapidamente e entendi o que ela queria: dividir um quarto com uma pessoa que pudesse compartilhar os custos fixos de manutenção em Toronto por uns tempos, assim, mais uma vez me lembrei de Andrea. Retornei ao nosso apartamento e pedi a Eunice pronta para dormir que conversasse mais detalhadamente sobre isto com essas senhoras enquanto eu iria fazer as minha tradicionais compras. Seria mais uma possibilidade de apoiarmos Andrea, ressalte-se que ela recentemente manteve contato via e-mail com Andrea tratando desse assunto. Bom, no decorrer da conversa perguntei a moça o que ela achava de morar em Quebéc, ela me disse que só tinha velho, ela preferia Toronto, então percebi que ela queria e o que queria obter no Canadá.
No dia seguinte fomos caminhando para Dundas, cerca de meia hora do hotel, conhecendo vários locais e um me chamou atenção. Era uma fila com cerca de 20 pessoas num local com a placa Tokio Smoke, fiquei curioso mas segui em frente.
Fiquei realmente impressionado com o tamanho do Eaton Center o principal centro. Achamos o local muito bom e passamos a frequenta-lo quase diariamente. Um problema, as opções dos restaurantes são poucas fora as da culinária chinesa. Uma pernambucana me disse que realmente sentia este problema, tinha casado com um árabe e teria tido problemas intestinais em decorrência dos temperos.
Nesta praça da alimentação presenciei a situação de um rapaz jovem que estava dormindo nos bancos e fui testemunha de como são feitas a abordagem do recinto de pessoas inconvenientes que existem em quase todo local público. O rapaz foi chamado por uma segurança com tapinhas delicadas no rosto e não acordou, assim, com o apoio de mais 3 colegas foi colocado numa maca, contido por 2 cintos e retirado do local com bastante suavidade. Outra ocorrência que vi, foi um sujeito abrir sua mochila e retirar o produto do roubo em frente a dois policiais com aparência oriental, sendo conduzido discretamente para um local reservado. Foram as únicas ocorrências um pouco mais graves que eu vi em Toronto, embora aqui e acolá, principalmente no metrô, sempre surgiam pessoas com aspecto suspeito. No entanto, imagino que as condições climáticas, sociais, favorecem muitos casos de solidão e tristeza, e isto traduz-se em grande sofrimento humano. Acho que nos trópicos este problema é mais atenuado pela presença marcante da luz solar.
Para não confundir, existe uma outra estação Dundas, a West, reduto de portugueses e brasileiros e onde almoçamos uma comida típica, utilizamos o ônibus em integração com o metrô. Valeu a viagem.
Através do nosso hotel em articulação com uma empresa de turismo fomos conhecer as cataratas do Niágara, fronteira com os EUA, 2 horas em viagem de ônibus confortável. A princípio fomos a um vinhedo para conhecer e experimentar um vinho canadense, depois seguimos até Niagara Fall e ficamos diante de várias atrações, Skilon Mirante, passeio de barco e mais umas 10 opções. Preferimos simplesmente andar pelo calçadão, fotografando e filmando aquele espetáculo, recebendo no rosto agradáveis respingos da cachoeira. Neste dia almoçamos num restaurante defronte as cataratas. O melhor da viagem estava no retorno. Conhecemos Niagara on the Lake, e o ônibus seguiu ir pela Niagara Parkway. Por que? Por vários motivos. O principal é a bela paisagem dessa estrada que vai contornando o Rio Niagara. Além disso, observamos muitas vinícolas no caminho. A cidade é encantadora, calma e sua beleza é marcante. Foi um dia muito incrível, tranquilo e extremamente agradável para visitar o Niagara.

No retorno à Toronto tivemos mais uma surpresa na estação UNION. Compramos a passagem para andar de trem pelo Canada. Por 370 dolares canadenses compramos 2 passagens de trem, Toronto para Sarnia, retornando até Montreal passando na volta por Toronto novamente. Essa viagem de 15 horas era uma incógnita principalmente para Eunice, mas foi surpreendentemente tranquila e alegre. Saímos da estação Union em Toronto às 17 horas do 12º dia e chegamos as 22 horas em Sarnia, uma pequena cidade de 70 mil habitantes fronteiriça com os EUA e tendo como base econômica a indústria de petróleo e gás.

Lá mora Bruno, sobrinho de Eunice, com sua mulher e filha, ele trabalha com eletrônica, sua mulher com preservação ambiental e sua filha estuda num bom colégio e gosta de futebol. São muito agradáveis e hospitaleiros. Quando chegamos estavam nos esperando na estação do trem e após 5 minutos já estavámos hospedados em sua confortável casa. De manhã, era domingo 12 de maio, fomos tomar o café da manhã numa marina, local belíssimo. Depois eles gentilmente nos mostraram a pequena e bela cidade, destacando-se área de preservação, reservas e uma enorme planta de geração de energia solar. A noite Bruno preparou uma costela assada de altíssima qualidade e todos nós botamos as conversas em dia em torno de 2 garrafas de um bom vinho canadense. No dia seguinte era uma segunda feira, eu e Eunice fomos dar uma volta nas proximidades e a noite fomos a uma pizzaria e a atendente perguntou se a gente queria costela. Ficamos tão impressionados com o churrasco do dia anterior que concordamos, mas o que a moça nos trouxe foram uma stellas. Rimos da situação, aproveitamos e enchemos a cara de cervejas. No dia seguinte retornamos e isto nos deixou saudades da família, da acolhida, e da verdadeira e autêntica alegria que eles tiveram em nos receber em Sarnia.